A gestão de resíduos é um dos diversos desafios enfrentados pela indústria da mineração. Com volumes expressivos de materiais extraídos e processados, a geração de resíduos minerais torna-se inevitável.
O problema, no entanto, não está em sua existência, mas na forma como são tratados, armazenados e, sobretudo, reaproveitados. Quando bem manejados, esses resíduos deixam de representar um passivo ambiental e passam a integrar soluções sustentáveis com impacto positivo para o meio ambiente e a economia.
Neste artigo, abordamos o que são os resíduos de mineração, como surgem, os riscos associados ao seu descarte inadequado, as possibilidades de reaproveitamento e o que diz a legislação brasileira sobre o tema. Também apresentamos boas práticas e iniciativas de destaque que mostram como transformar resíduos em valor. Boa leitura!
O que são resíduos de mineração?
Os resíduos de mineração são todos os materiais descartados durante as etapas de lavra, beneficiamento e transporte de minérios. Eles resultam da separação entre o que tem valor comercial (minério) e o que é considerado excedente ou indesejado (rejeito ou estéril).
Tais resíduos podem ser sólidos, líquidos ou pastosos e variam conforme o tipo de minério explorado e a tecnologia empregada no processo.
É comum que os resíduos sólidos estejam associados a rochas fragmentadas, partículas de solo e minerais sem interesse econômico.
Já os resíduos líquidos podem conter substâncias químicas utilizadas na separação mineral, como reagentes e óleos. Essas características exigem atenção especial tanto no armazenamento quanto no eventual reaproveitamento.
Qual é a origem desses resíduos?
A origem dos resíduos da mineração está diretamente relacionada às fases operacionais das atividades minerárias. Começa com a retirada do material bruto do subsolo, passa pela fragmentação mecânica e segue pelo beneficiamento, em que o minério de interesse é separado de outros componentes.
Todo esse processo gera um volume significativo de subprodutos, especialmente em minas a céu aberto ou em grande escala.
Além disso, tecnologias pouco eficientes de separação contribuem para o aumento da quantidade de resíduos.
Um estudo publicado na Applied Sciences afirma que entre 97% e 99% do material extraído em operações de mineração acaba como rejeito (mine tailings) após o beneficiamento.
Isso significa que, na prática, apenas 1% a 3% do minério bruto se converte em produto comercial, reforçando a necessidade urgente de repensar os métodos de gestão de resíduos e investir em estratégias de reaproveitamento.
Qual a diferença entre rejeitos e resíduos reaproveitáveis?
Embora sejam frequentemente tratados como sinônimos, rejeitos e resíduos reaproveitáveis têm naturezas distintas.
Os rejeitos são materiais que, mesmo após o beneficiamento, não apresentam valor econômico imediato. Costumam ser depositados em barragens ou pilhas, exigindo planos de segurança rigorosos para evitar acidentes, como os tristemente conhecidos rompimentos de barragens.
Por outro lado, os resíduos reaproveitáveis têm composição ou características que permitem sua reutilização em diferentes setores da economia.
Muitas vezes, o que falta é apenas investimento em pesquisa ou tecnologia para viabilizar esse reaproveitamento em escala industrial. Essa diferenciação é essencial para uma gestão de resíduos eficiente e sustentável.
Quais são os principais resíduos de mineração?
Os resíduos minerais podem ser agrupados em diferentes categorias, a depender da origem e composição. Entre os principais tipos, podemos destacar:
- estéril: composto por rochas ou solos removidos para acessar o minério, mas sem valor econômico direto;
- rejeitos finos: partículas resultantes do beneficiamento, geralmente armazenadas em barragens por sua consistência lamacenta;
- poeira e material particulado: liberados durante o transporte, britagem ou peneiramento do minério;
- escórias e lamas industriais: presentes em operações de fundição e metalurgia, podendo conter metais residuais.
Cada tipo de resíduo gerado na mineração — seja estéril, rejeito fino, poeira ou escória — apresenta características físico-químicas distintas, o que exige soluções técnicas específicas para sua gestão.
Um exemplo: os estéreis, por serem mais volumosos e menos contaminantes, podem ser usados diretamente na recomposição de paisagens ou em obras de infraestrutura.
Já os rejeitos finos, com elevada umidade e potencial de contaminação, requerem contenção segura em barragens ou sistemas alternativos como filtragem e empilhamento a seco.
A poeira mineral, por sua vez, deve ser controlada por aspersão, enclausuramento de equipamentos e uso de aditivos aglutinantes.
Em todos os casos, a viabilidade de reaproveitamento depende de estudos técnicos, análises laboratoriais e, muitas vezes, do desenvolvimento de novas tecnologias. Uma abordagem eficiente exige planejamento desde o início do projeto, integração entre áreas técnicas e compromisso com a sustentabilidade.
Quais os impactos ambientais dos resíduos de mineração?
Quando mal geridos, os resíduos da mineração podem comprometer ecossistemas inteiros e afetar a vida de milhares de pessoas. Os impactos ambientais mais comuns incluem:
- contaminação do solo e das águas subterrâneas, devido ao escoamento de metais pesados e substâncias tóxicas;
- emissão de poeira e partículas finas, que deterioram a qualidade do ar e afetam a saúde de trabalhadores e comunidades próximas;
- risco de rompimento de barragens, com consequências sociais e ambientais catastróficas;
- degradação da paisagem e perda da biodiversidade, com impactos permanentes na fauna e flora locais.
Além dos danos ecológicos, há ainda implicações sociais relevantes, como o deslocamento de comunidades e a perda de terras produtivas.
Como os resíduos de mineração podem ser reaproveitados?
O reaproveitamento dos resíduos da mineração transforma passivos em ativos e favorece a construção de uma economia circular no setor. Diversas soluções já estão em uso, com resultados promissores. Conheça algumas delas:
Aplicação na construção civil
Diversos resíduos minerais são empregados na fabricação de artefatos como blocos, tijolos, pavimentos e concreto. Esse uso contribui para reduzir a extração de materiais virgens e os custos de produção na construção civil, além de ser uma estratégia eficaz de contenção de resíduos.
Correção e fertilização de solos
Resíduos com propriedades químicas favoráveis, como os provenientes da fosfatia ou calcinação, podem ser usados na agricultura como corretivos de acidez ou fontes alternativas de nutrientes. A aplicação é segura desde que precedida por análises laboratoriais e aprovações regulatórias.
Recuperação de metais
Em rejeitos considerados improdutivos, ainda podem existir concentrações significativas de metais, como ferro, alumínio, manganês e cobre.
A extração secundária desses elementos pode ser feita por flotação, lixiviação ou processos biotecnológicos, oferecendo retorno financeiro e reduzindo a pressão sobre novas jazidas.
Fabricação de cimento, cerâmica e vidro
A indústria cimenteira tem adotado resíduos da mineração como substitutos parciais de calcário e argila em seus fornos. De forma semelhante, materiais sílico-aluminosos servem como base para cerâmicas e até vidro industrial, desde que adequadamente processados.
Pesquisa e inovação
O desenvolvimento de novas tecnologias e materiais a partir de resíduos minerais vem sendo impulsionado por centros de pesquisa, universidades e startups. Entre os focos de estudo, estão o uso de resíduos para impressão 3D, produção de concreto leve e novos tipos de aditivos industriais.
O que a legislação diz a respeito?
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010) é a base legal para a gestão dos resíduos industriais no Brasil, incluindo os da mineração. Ela determina a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos e prioriza ações como não geração, redução, reutilização e reciclagem.
A legislação específica para mineração também é robusta, como podemos ver a seguir:
- o Código de Mineração obriga a recuperação das áreas impactadas e o aproveitamento racional dos recursos;
- a Agência Nacional de Mineração (ANM) estabelece regras para a segurança de barragens e exige Planos de Gerenciamento de Rejeitos;
- órgãos ambientais estaduais e o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) complementam com normativas sobre licenciamento e qualidade ambiental.
O não cumprimento dessas obrigações pode levar à suspensão de operações, multas pesadas e até responsabilização penal em casos de desastres.
Quais os exemplos de iniciativas de reaproveitamento de resíduos de mineração?
Diversas iniciativas têm demonstrado que é possível transformar resíduos da mineração em insumos úteis para a sociedade. Universidades, empresas e pesquisadores vêm apostando em soluções tecnológicas, sustentáveis e economicamente viáveis para reaproveitar materiais antes descartados.
A seguir, listamos três exemplos promissores que mostram o potencial transformador da gestão de resíduos no setor mineral. Confira!
Tijolos sustentáveis, da mineração de esmeraldas e ferro
Uma iniciativa descrita pela Brasil Mineral apresenta a história do pesquisador Hélio Elias da Silva, que desenvolveu tijolos ecológicos fabricados a partir de resíduos da mineração de ferro e de esmeraldas, combinados com pó de poliéster e de garrafas PET.
Esse processo tem como objetivo aproveitar subprodutos da extração mineral, reduzindo o descarte e diminuindo a pressão sobre matérias-primas virgens, além de agregar valor ao que seria rejeito.
Os tijolos resultantes demonstram bom desempenho térmico e mecânico, representando uma alternativa viável ao uso de produtos convencionais na construção civil.
Pesquisas do LMC² da UFOP
Além disso, o Laboratório de Materiais de Construção Civil (LMC²) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) já realiza pesquisas contínuas sobre o potencial dos rejeitos minerais na fabricação de insumos para a construção civil e infraestrutura, como tijolos, pavimentos e artefatos cimentícios — isto é, promovendo uma abordagem científica para o reaproveitamento em larga escala.
Aproveitamento em tijolos, pavimentação e arte
De acordo com reportagem do site Click Petróleo & Gás, rejeitos minerais estão sendo transformados em tijolos ecológicos, materiais de pavimentação rodoviária — inclusive com testes da Vale em estradas em Minas — e até obras de arte. Destaca-se, por exemplo, o uso pela UFOP de rejeito de ferro para produzir tijolos termicamente eficientes
Essas iniciativas mostram que, com investimento em tecnologia e boas práticas, é possível transformar resíduos em insumos estratégicos, promovendo a sustentabilidade no setor.
Como visto no artigo, a gestão de resíduos na mineração vai além da obrigação legal — trata-se de uma oportunidade real de inovação, eficiência e responsabilidade socioambiental.
Ao investir no reaproveitamento e na gestão de resíduos, o setor fortalece sua imagem, reduz custos e contribui para um modelo de desenvolvimento mais sustentável. O futuro da mineração passa, necessariamente, por práticas que integrem produtividade e preservação.
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